quarta-feira, 16 de abril de 2008

Pesquisa do Datasus

O controle da Aids entre os usuários de drogas injetáveis é um dos destaques brasileiros do Relatório Mundial sobre Drogas 2005 da ONU, divulgado ontem. Conforme o estudo, O índice de portadores de HIV entre os usuários chega a 80% na América do Sul e a 66,5% na Europa Ocidental. No Brasil, a taxa é de 50%.

O
representante do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime no Brasil, Giovanni Quaglia, explicou que o resultado, apesar de não ser o ideal, já pode ser comemorado:

- O governo fez um trabalho de inclusão social. É muito interessante. Isso não foi feito em outros países. No Brasil, isso deu certo por meio de campanhas, troca de seringas, programas educacionais e tratamento universal para todos os brasileiros.

Segundo ele, o Brasil foi um dos primeiros países em desenvolvimento a aplicarem essa política de saúde pública.

- É uma política que deu certo e que hoje é um exemplo para o mundo inteiro - disse o representante da ONU.

De acordo com a organização, o contágio entre usuários de drogas foi uma das principais razões da velocidade com que a Aids se disseminou durante a década de 80 no país. Entre esse grupo, duas capitais brasileiras se destacam: São Paulo (75% dos casos) e Rio (25% dos casos).

A falta de cuidado dos usuários de drogas injetáveis é um fator preocupante no momento de controlar a disseminação do HIV. No Brasil, estudo feito com esse grupo mostrou que apenas 12,5% usam camisinha durante o ato sexual, mas 77,7% deles tomam a iniciativa de lavar a seringa usada por outra pessoa antes de usá-la novamente.

Os efeitos da despreocupação com o assunto atinge ainda mais as mulheres: 40% delas foram contaminadas com o HIV por manter relações sexuais com parceiros que eram usuários de drogas.

De acordo com o estudo feito pela ONU, os usuários de heroína geralmente passam por longos períodos de abstinência sexual, o que não acontece com aquelas pessoas que consomem cocaína, utilizada em maior escala no Brasil.

O Programa de Redução de Danos
A redução de danos é um movimento internacional que surgiu em resposta à crescente crise da Aids na década de 80. Confira o número de seringas distribuídas e recolhidas em Porto Alegre:

A distribuição de seringas no Programa de Redução de Danos na Capital
1997
Seringas distribuídas: 19.674
Seringas recolhidas: 11.541
1998
Seringas distribuídas: 71.170
Seringas recolhidas: 45.121
1999
Seringas distribuídas: 69.311
Seringas recolhidas: 53.793
2000
Seringas distribuídas: 106.659
Seringas recolhidas: 98.726
2001
Seringas distribuídas: 75.471
Seringas recolhidas: 79.594
2002
Seringas distribuídas: 51.308
Seringas recolhidas: 39.648
2003
Seringas distribuídas: 29.915
Seringas recolhidas: 24.452
2004
Seringas distribuídas: 10.500
Seringas recolhidas: 5.561
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde

Dados
- O Brasil é um mercado consumidor crescente de anfetaminas e ecstasy, as chamadas drogas sintéticas.

- O Brasil hoje já é o país que mais consome ecstasy entre as nações do Cone Sul (Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina) e o terceiro colocado no ranking de toda a América do Sul. Cerca de 0,2% da população entre 15 e 64 anos de idade utiliza a droga no país.

- O índice de usuários de maconha no país é de 1% entre as pessoas de 15 a 64 anos, uma taxa superada na América Latina apenas pelo México (0,6%) e por duas ilhas caribenhas.

- A prevalência de usuários de cocaína é de 0,4%, índice apenas superior ao do Uruguai na América do Sul.

- A polícia brasileira ficou em quinto lugar no ranking mundial de apreensão de maconha em 2003. O Brasil confiscou 166,2 toneladas da droga.

- No ranking de recolhimento de cocaína pelas autoridades, o país alcançou o oitavo lugar, com 9,7 toneladas.

Fonte: Zero Hora

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Notícia da Anvisa

Lei nº 7.560, de 19 de dezembro de 1986
DOU de 23/12/1986


Cria o Fundo de Prevenção, Recuperação e de Combate às Drogas de Abuso, dispõe sobre os bens apreendidos e adquiridos com produtos de tráfico ilícito de drogas ou atividades correlatas, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Ministério da Justiça, o Fundo de Prevenção, Recuperação e de Combate às Drogas de Abuso - FUNCAB, a ser gerido pelo Conselho Federal de Entorpecentes CONFEN.

Art. 2º Constituirão recursos do FUNCAB:

I - dotações específicas estabelecidas no orçamento da União;
Il - doações de organismos ou entidades nacionais, internacionais ou estrangeiras, bem como de pessoas físicas ou jurídicas nacionais ou estrangeiras;
III - recursos provenientes da alienação dos bens de que trata o art. 4º desta lei;
IV - recursos provenientes de emolumentos e multas, arrecadados no controle e fiscalização de drogas e medicamentos controlados, bem como de produtos químicos utilizados no fabrico e transformação de drogas de abuso.
Parágrafo único. Os saldos verificados no final de cada exercício serão automaticamente transferidos para o exercício seguinte, a crédito do FUNCAB.

Art. 3º As doações em favor do FUNCAB, efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas declarantes do Imposto de Renda nos termos da legislação em vigor, serão dedutíveis da respectiva base de cálculo de incidência do referido imposto, desde que devidamente comprovado o recebimento pelo CONFEN.

Art. 4º Todo e qualquer bem de valor econômico, apreendido em decorrência do tráfico de drogas de abuso ou utilizado de qualquer forma em atividades ilícitas de produção ou comercialização de drogas abusivas, ou ainda, que haja sido adquirido com recursos provenientes do referido tráfico, e perdido em favor da União constituirá recurso do FUNCAB, ressalvados os direitos do lesado ou de terceiros de boa-fé e após decisão judicial ou administrativa tomada em caráter definitivo.

Parágrafo único. As mercadorias a que se refere o art. 30 do Decreto-lei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, que estejam relacionadas com o tráfico de drogas de abuso, sofrerão, após sua regular apreensão as cominações previstas no referido decreto-lei, e as mercadorias ou o produto de sua alienação reverterão em favor do FUNCAB.

Art. 5º Os recursos do FUNCAB serão destinados:
I - aos programas de formação profissional sobre educação, prevenção, tratamento, recuperação, repressão, controle e fiscalização do uso ou tráfico de drogas de abuso;
II - aos programas de educação preventiva sobre o uso de drogas de abuso;
III - aos programas de esclarecimento ao público;
IV - às organizações que desenvolvam atividades específicas de tratamento e recuperação de usuários;
V - ao reaparelhamento e custeio das atividades de fiscalização, controle e repressão ao uso e tráfico ilícito de drogas e produtos controlados;
VI - ao pagamento das cotas de participação a que o Brasil esteja obrigado como membro de organismos internacionais ou regionais que se dediquem às questões de drogas de abusos;
VII - à participação de representantes e delegados em eventos realizados no Brasil ou no exterior que versam sobre drogas e nos quais o Brasil tenha de se fazer representar;
VIII - aos custos de sua própria gestão.

Art. 6º O FUNCAP será estruturado de acordo com as normas de contabilidade pública e auditoria estabelecidas pelo Governo, devendo ter sua programação aprovada na forma prevista pelo Decreto-lei nº 1.754, de 31 de dezembro de 1979.

Art. 7º O Poder Executivo baixará os atos necessários à regulamentação desta lei.

Art. 8º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 9º Revogam-se as disposições em contrário, especialmente o § 2º do art. 34 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976.

Brasília, 19 de dezembro de 1986; 165º da Independência e 98º da República.


JOSÉ SARNEY
Paulo Brossard
Dilson Domingos Funaro

quarta-feira, 26 de março de 2008

details da pesquisa no Pubmed

(("pharmaceutical preparations"[TIAB] NOT Medline[SB]) OR "pharmaceutical preparations"[MeSH Terms] OR drugs[Text Word]) AND portuguese[Language]

Resultado do pubmed

[Fragments of the history of healthcare for users of alcohol and other drugs in Brazil: from Justice to Public Health]

[Article in Portuguese]

Centro Mineiro de Toxicomania da Fundação, Hospital de Minas Gerais, Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. ana.machado@fhemig.mg.gov.br

The purpose of this article is to identify, factors that could be associated to the establishment of the country's health policy for users of alcohol and other drugs in 2003. It makes particular use of semi-structured interviews, as well as a study of the literature and documents. The article shows that the Brazilian State's approach to alcohol and drugs emerged in the early 20th century with the creation of a legal and institutional apparatus designed to control the sale and use of drugs, justified by the need to assure public security and public health. This apparatus permitted the development of healthcare practices for drug users based on the penalties it proposed. The article concludes that even though the rationales behind legal and public health measures do not always coincide, some of the practices that emerged in the legal sphere did help provide the conditions needed for the creation of a health policy for alcohol and drug users in Brazil in 2003.

PMID: 18453331 [PubMed - in process]

quarta-feira, 19 de março de 2008

Uso de cocaina e etanol.

Base de dados : LILACS
Pesquisa : cocaina [Descritor de assunto] and internet [Palavras]
Referências encontradas : 1 [refinar]
Mostrando: 1 .. 1 no formato [Detalhado]

Autor: Vasconcelos, Silvania Maria Mendes; Macedo, Danielle Silveira; Lima, Iri Sandro Pampolha; Sousa, Francisca Clea Florencio; Fonteles, Marta Maria Franca; Viana, Glauce Socorro Barros.
Título: Cocaetileno um metabolito da associaçäo cocaina e etanol / Cocaethylene a metabolite of cocaine and ethanol association
Fonte: Rev. psiquiatr. clin. (Sao Paulo);28(4):207-210, 2001. ilus.
Idioma: Pt.
Resumo: A cocaina, droga psicoestimulante, e usada frequentemente em associacao com outras drogas de abuso (alcool, heroina, sedativos, maconha, entre outras). Entre estas, o consumo simultaneo de cocaina e alcool tem aumentado significativamente nos ultimos anos em todo o mundo. Com o objetivo de estudar a associacao entre essas drogas, foi realizada uma pesquisa bibliografica via Internet, utilizando programas de pesquisa cientifica (Pubmed e Lilacs), alem...(AU)
Descritores: Cocaína/metabolismo
Etanol/metabolismo
Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias/complicações

-Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias/metabolismo
Limites: Humanos

texto completo:

Cocaetileno: um metabólito da associação cocaína e etanol

Silvânia Maria Mendes Vasconcelos1
Danielle silveira Macedo1

Iri Sandro Pampolha Lima2
Francisca Cléa Florêncio Sousa3

Marta Maria França Fonteles3
Glauce Socorro Barros Viana3

Recebido: 2/2/2001/Aceito: 2/5/2001

RESUMO

A cocaína, droga psicoestimulante, é usada freqüentemente em associação com outras drogas de abuso (álcool, heroína, sedativos, maconha, entre outras). Entre estas, o consumo simultâneo de cocaína e álcool tem aumentado significativamente nos últimos anos em todo o mundo. Com o objetivo de estudar a associação entre essas drogas, foi realizada uma pesquisa bibliográfica via Internet, utilizando programas de pesquisa científica (Pubmed e Lilacs), além de pesquisa em trabalhos relacionados ao assunto. A administração simultânea de cocaína e álcool apresenta alta toxicidade para o homem devido à formação de cocaetileno, um metabólito ativo da cocaína, formado na presença do etanol. O usuário de drogas utiliza essas associações para aumentar o quadro eufórico e diminuir o quadro psicomotor causado pelo álcool. Entretanto, o cocaetileno parece potencializar os efeitos da cocaína, principalmente nos sistemas cardiovascular e nervoso central (SNC). O mecanismo de ação do cocaetileno não está totalmente definido, mas parece agir sinergisticamente com a cocaína no bloqueio da recaptação de monoaminas, como dopamina, noradrenalina e, em menor extensão, serotonina. Assim, podemos concluir que essa associação produz uma taxa de maior letalidade, quando comparado ao uso isolado dessas drogas.

Unitermos: Cocaína; Etanol; Cocaetileno.

ABSTRACT

Cocaethylene a metabolite of cocaine and ethanol association

Cocaine is a psychostimulant frequently used in association with other drugs of abuse (alcohol, heroin, sedatives, marijuana et al.). Among these associations, the administration of cocaine with alcohol has increased significantly in the last years in all the world. The objective of this work was to study the association cocaine-alcohol using a bibliographic research done by Internet (sites: Pubmed and Lilacs), and the papers related to these subjects. The administration of alcohol and cocaine presents high toxicity to men, due to the formation of cocaethylene, an active metabolite of cocaine produced in the presence of alcohol. Subjects use these drugs associated to increase euphoric effects and reduce psychomotor changes caused by alcohol administration. Cocaethylene was seen to potentiate the effects of cocaine mainly in the cardiovascular and central nervous systems. Cocaethylene mechanism of action is not clearly understood, but it seems that this comound makes a synergism with cocaine in its action to block the reuptake of monoamines such as dopamine, noradrenalin and in less extention serotonin. Therefore, we can conclude that this association produces a high lethality when compared to the use of only one of these drugs.

Keywords: Cocaine; Ethanol; Cocaethylene.


Introdução

Drogas de abuso

As drogas de abuso são causadoras de muitos problemas comuns para várias sociedades de todo o mundo. Antigos textos religiosos mostram que, em todas as épocas e lugares, os seres humanos deliberadamente usaram substâncias capazes de modificar o funcionamento do sistema nervoso, induzindo sensações corporais e estados psicológicos alterados. Essas drogas têm grande poder destrutivo não apenas para o indivíduo, mas também para sua família e a sociedade (O’Brien et al., 1995).

As pesquisas mostram que, nos Estados Unidos, houve um aumento entre 2,4% a 6,1% na ingestão associada de drogas de abuso, entre elas, a cocaína e o álcool. Grant e Hartford (1990) estimaram que, na população em geral, cerca de 4 milhões de pessoas usaram cocaína e álcool em algum tempo de sua vida. O álcool em combinação com a cocaína é a associação mais freqüente de uso de substâncias de abuso, que se apresentam comumente para receber atendimentos nas emergências dos hospitais das grandes cidades. Em estudos forenses, cocaína e etanol são freqüentemente identificados em ensaios biológicos de vítimas de acidente de trânsito (Marzuk et al.; 1995).

Com o propósito de estudar a associação entre essas drogas, foi feita extensa revisão bibliográfica pela Internet de textos relacionados ao tema. Os programas de busca utilizados foram Pubmed e Lilacs (palavras-chave: "cocaine and ethanol"), bem como textos envolvendo dados de epidemiologia, farmacocinética, farmacodinâmica, toxicidade e pesquisas laboratoriais da associação de cocaína e álcool.

Formação do cocaetileno

Metabolismo normal da cocaína

A cocaína é metabolizada por três vias: hidrólise pela colinesterase plasmática e, em menor extensão, pela colinesterase hepática, levando à formação de um metabólito inativo, o éster de metilecgonina, cuja excreção ocorre em torno de 32% a 49% na urina (Inaba et al., 1978); benzoilecgonina, formada por hidrólise espontânea (não-enzimática) ou pela ação da enzima carboxiesterase hepática ou plasmática, esse metabólito é o mais ativo da cocaína e é excretado na urina em torno de 29% a 45% (Fish e Wilson, 1969); e norcocaína, metabólito ativo da cocaína formado por um processo de N-desmetilação, responsável por menos de 5% dos metabólitos totais da cocaína (Inaba et al., 1978).

Metabolismo da cocaína na presença do etanol

A combinação do uso de cocaína e álcool aumenta os níveis plasmáticos de cocaína e norcocaína, reduz as concentrações de benzoilecgonina e induz a síntese de cocaetileno (Hedaya & Pan, 1996; Pan & Hedaya, 1999). O cocaetileno é o único metabólito da cocaína formado na presença do etanol (Sobel & Riley, 1999). A transformação metabólica de cocaína para benzoilecgonina é mediada em parte por uma carboxiltransferase hepática (Figura 1), que, na presença do etanol, converte cocaína em cocaetileno (Bosron et al., 1997). Cocaetileno tem alta taxa de distribuição no cérebro/sangue, seguido por cocaína, norcocaína e benzoilecgonina (Pan & Hedaya, 1999). Sua meia-vida plasmática é 3 a 5 vezes maior que a da cocaína, que é em média de 50 minutos (O’Brien et al., 1995). Cocaetileno pode ser estocado nos tecidos do corpo (Hearn et al., 1991) e sua lenta remoção faz dele um atrativo para o abuso (Andrews, 1997).

Aspectos farmacocinéticos da associação cocaína e álcool

A ordem de ingestão de cocaína e álcool é um fator importante e pode influenciar o efeito resultante dessa interação. Quando o álcool é ingerido antes da inalação da cocaína, existe um significativo aumento nas concentrações de cocaína plasmática e nos efeitos subjetivos da cocaína, além de aumento na freqüência cardíaca. Entretanto, quando a cocaína é ingerida antes do álcool, não aparecem alterações nos níveis de álcool sangüíneos ou nas taxas subjetivas de intoxicação pela cocaína, resultando na formação mais lenta e de menores quantidades de cocaetileno (Perez-Reyes, 1994). Além disso, o aparecimento de cocaetileno no plasma não altera o declínio dos efeitos subjetivos e da freqüência cardíaca resultantes da cocaína, nem aumenta as concentrações plasmáticas de cocaína.

Pan & Hedaya (1999), avaliando o efeito da co-administração de álcool e cocaína e o perfil dos metabólitos da cocaína no sistema nervoso central e na atividade cardiovascular de ratos, mostraram que o metabólito benzoilecgonina não teve nenhum efeito no SNC ou na atividade cardiovascular após administração intravenosa de etanol. Cocaína, norcocaína e cocaetileno apresentaram potentes e prolongados efeitos na freqüência cardíaca e nas respostas do intervalo QRS, bem como em efeitos neuroquímicos, e também foram equipotentes no aumento da pressão arterial média. Assim, foi demonstrado que mudanças no perfil dos metabólitos da cocaína e na formação do cocaetileno foram, pelo menos em parte, responsáveis por efeitos mais intensos e duradouros relatados após o uso da combinação cocaína e etanol.

Efeitos da associação cocaína e álcool

Em humanos

A interação entre álcool e cocaína tem sido investigada em humanos. Essas drogas combinadas produzem um aumento mais significativo na freqüência cardíaca e na pressão arterial, quando comparado ao uso isolado de uma das substâncias (Cami et al., 1998), reduzem a sensação de embriaguez (Higgins et al., 1993), aumentam a euforia induzida por cocaína (Perez-Reyes & Jeffcoat, 1992; McCance-Katz et al., 1998) e embotam alguns dos efeitos deletérios do álcool nas tarefas de desempenho psicomotor (Higgins et al., 1993; Farre et al., 1993).

Em testes laboratoriais, indivíduos referem maior sensação de bem-estar depois do uso da cocaína e álcool associados, em comparação ao uso destes isoladamente (Farre et al., 1993). A interação de álcool e cocaína pode resultar não somente em aumento e prolongamento da euforia, mas também em grande toxicidade. Esta toxicidade, em parte, pode resultar em grave comprometimento vital (Hearn et al., 1991), além de contribuir para muitas fatalidades relacionadas à cocaína, mesmo quando esta é encontrada em baixas concentrações sangüíneas (Wetli & Wright, 1979).

Cocaetileno também está relacionado a convulsões, danos hepáticos e diminuição da função do sistema imunológico. Álcool em combinação com a cocaína atenua a percepção subjetiva da sedação (Higgins, 1992). Esses efeitos subjetivos podem levar ao aumento do uso combinado dessas drogas e resultar em uma superestimulação do álcool, aumentando, conseqüentemente, os efeitos deletéricos dessa droga.

Quanto ao mecanismo de ação, parece que o cocaetileno também bloqueia a recaptação de dopamina na fenda sináptica, assim favorecendo a inibição da recaptação de dopamina produzida por cocaína (Tella & Goldberg, 1998). Essa aumento prolongado de dopamina na fenda sináptica pode ser a base da alta labilidade da combinação álcool e cocaína mediante efeito de adição do cocaetileno.

Em animais

Horowitz et al. (1997), estudando o efeito do cocaetileno na atividade locomotora e na estereotipia em ratos Long-Evans e Sprague-Dawley, observaram que o cocaetileno produziu alterações comportamentais somente em ratos da raça Sprague-Dawley. Entretanto, na presença de fluoxetina, inibidor de recaptação de serotonina, os ratos Long-Evans também apresentaram um aumento na atividade locomotora. Baseados nesses resultados, os autores concluíram que o cocaetileno parece ter um efeito menor na recaptação de serotonina, quando comparado à dopamina, e que a base neuroquímica para explicar essa diferença comportamental de efeito do cocaetileno, nessas duas raças de animal, parece estar relacionada à biodisponibilidade da serotonina.

Hayase et al. (1999), estudando a associação de cocaína e álcool em camundongos, observaram que existe maior taxa de mortalidade (86%) nesses animais, em comparação àqueles que usaram cocaína e álcool isoladamente.

Conclusão

A associação de cocaína e álcool produz uma toxicidade maior, em comparação ao uso dessas drogas isoladamente, e essa alta toxicidade ocorre devido à formação do cocaetileno, um metabólito ativo da cocaína formado apenas na presença do álcool. Vale salientar que essa toxicidade, causada pelo cocaetileno, é mais prejudicial para os sistemas cardiovascular e nervoso central, sendo comum aos homens e aos animais.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Uso de drogas ilicitas

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LILACS
Express Representações sociais de universitários de psicologia acerca da maconha / Psychology students' social representations about marijuana.
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Author: Fonseca, Aline Arruda da; Azevedo, Regina Lígia Wanderley de; Araújo, Ludgleydson Fernandes de; Oliveira, Suenny Fonsêca de; Coutinho, Maria da Penha de Lima. Title: Representações sociais de universitários de psicologia acerca da maconha / Psychology students' social representations about marijuana Source: Estud. psicol. (Campinas);24(4):441-449, out.-dez. 2007. ilus. Idioma: Pt. Abstract: O uso abusivo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas ganhou proporções tão alarmantes que, na atualidade, é um desafio da saúde pública. Salienta-se que a maconha é a droga ilícita mais utilizada no Brasil. Esta pesquisa objetivou investigar as representações sociais de estudantes de Psicologia acerca da maconha. Participaram 200 universitários de ambos os sexos (76,2 por cento feminino), com idades entre 18 e 26 anos. Foi utilizado o Teste de Associação Livre de Palavras, tendo como estímulo indutor a palavra maconha. Os dados foram processados pelo software tri-deux-mots (versão 6.1) por meio da análise fatorial de correspondência. Os resultados apontaram diferenças de gênero nas formas de representarem a maconha. Os universitários objetivaram a maconha nas questões voltadas para a busca do prazer/hedonismo e as universitárias nos aspectos psicossociais. Os estudantes mais jovens apresentaram uma visão negativa da erva e os mais velhos deram ênfase ao preconceito sofrido pelos usuários.(AU)

The abusive use of allowed and illicit psychoactive substances has got alarming dimensions as it, in the present time, is a challenge for the public health. It is known that marijuana is the most used illicit drug in Brazilian reality. This research had as objective to investigate Social Representations of Psychology students concerning marijuana. Two hundred college students participated; from both sex (feminine 76.2 percent), whose ages were around18 to 26 years. The Words Free Association Test was used, having as stimulation-inductor the word marijuana. The data had been processed by software tri-deux-mots (version 6.1) through the factorial analysis of correspondence. The results had pointed differences of sort in the forms to represent marijuana. The college male students objectified marijuana to questions directed towards pleasure/hedonism, while the female ones to psychosocial aspects. The younger students presented a negative vision about the grass, and the oldest ones gave emphasis to the preconception suffered by the users.(AU)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Resultado do abuso de bebidas no decs

O abuso do alcool pode levar a diversas complicações como:


Descritor Inglês:

Alcoholism
Descritor Espanhol:

Alcoholismo
Descritor Português:

Alcoolismo
Sinônimos Português:

Abuso de ÁlcoolIntoxicação Alcoólica CrônicaIntoxicação por Álcool Crônica
Categoria:

C21.739.100.250F03.900.100.350
Definição Português:

Doença crônica, primária, com fatores genéticos, psicosociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e manifestações. A doença é geralmente progressiva e fatal. É caracterizada pela falta de controle sobre a bebida, pré-ocupação com a droga álcool, uso de álcool apesar das consequências adversas, e distorções no pensamento, negação notável. Cada um destes sintomas pode ser contínuo ou periódico.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ecstasy na superinteresante


Edição 156
Puro ecstasy


O que os novos estudos revelam sobre a droga do momento.
Abatida seca da bateria, repetitiva, quase hipnótica, é entremeada por ruídos eletrônicos que parecem emanar de uma nave extraterrestre. As luzes fortes, cítricas, alternam-se no ritmo da música. Nada por ali é opaco. As cores cobrem tudo. E são vibrantes, fluorescentes. De repente, malabaristas mascarados aparecem fazendo círculos de fogo no ar, espalhando pela madrugada cheiro de querosene. Outros carregam pequenos bastões de neon verde, que lembram criptonita, e caminham em direção a uma tenda de circo onde mais de mil pessoas dançam em meio à fumaça colorida, numa espécie de transe coletivo. É uma e vinte da manhã. Cedíssimo para uma rave. A festa está só começando.
Inspiradas nos festivais psicodélicos dos anos 60 e 70, as raves são festas quase sempre realizadas ao ar livre em antigas fábricas, armazéns abandonados e sítios nos arredores de metrópoles como São Paulo ou Nova York. São um misto de clube noturno e parque de diversões. E podem durar mais de 15 horas ininterruptas. "É para agüentar esse ritmo que muita gente toma o 'E'", diz Alê de Lima, que organiza raves há mais de cinco anos. "E" é a abreviação de ecstasy, o combustível dessa maratona dançante. Não é preciso muito mais do que meia hora para que o pequeno comprimido colorido comece a produzir sorrisos contagiantes e uma sensação de bem-estar, alegria e leveza. "Não é preciso nem acompanhar a batida eletrônica, é só deixar o ritmo conduzir os seus movimentos. É como se você estivesse dentro da música", diz C.C., de 23 anos, estudante carioca de Comunicação.
Os efeitos não param por aí. Com a dilatação da pupila, as luzes ganham um brilho especial e os olhos ficam mais sensíveis - daí os óculos de lentes amarelas, tipo night vision. E o mais notável: uma hipersensibilidade do tato. Qualquer toque no corpo, sob o efeito do ecstasy, tem a sensação multiplicada. Muitos se encostam e se abraçam como se todo o corpo fosse uma grande zona erógena. As mulheres, principalmente, falam do aumento do desejo sexual - uma sensação que acabou conferindo ao "E" outro famoso apelido: droga do amor. Além disso, o "E" é discreto - comparado a outras drogas, não tem o cheiro forte da maconha nem requer uma assimilação agressiva como a cocaína.
São esses relatos que insuflam o apelo do ecstasy junto à moçada. A idéia vendida é que, por 30 ou 40 reais - o que qualquer adolescente de classe média gasta numa noite de sábado -, pode-se comprar um comprimido do tamanho de uma aspirina, que vem com a felicidade dentro. O resultado é que o "E" está cada vez mais fora do gueto, atraindo cada vez mais jovens com sua imagem de droga "benigna".
Evidente, o caminho para o nirvana não é tão curto nem tão simples. Os riscos para a saúde de quem embarca na onda do ecstasy não são poucos. O primeiro deles não tem a ver propriamente com os danos sobre o organismo, mas com a possibilidade de terminar a noite num lugar bem menos animado: atrás das grades. Trata-se de um risco tão óbvio quanto real: o ecstasy é tão ilegal quanto a heroína ou qualquer outra substância presente na lista de drogas proibidas pelo Ministério da Saúde. Até há pouco tempo, quando a droga era pouco conhecida, havia um certo clima de tolerância. O mesmo que costuma cercar os usuários de maconha. "Para a polícia essa diferença de tratamento nunca existiu", diz o delegado Gilberto Cezar, da Polícia Federal de São Paulo. "Temos apenas que concentrar esforços nas drogas mais consumidas." Mas a descoberta do primeiro laboratório para a fabricação do ecstasy no Brasil, num apartamento no centro de São Paulo, no mês passado, está mudando o modo como a sociedade vê o ecstasy. Cinco pessoas foram presas, entre elas dois estudantes. O material recolhido na apreensão poderia fabricar cerca de 10 000 unidades do "E".
A substância que define o ecstasy é o MDMA, sigla de (não tente pronunciar) metilenodioxidometanfetamina. Com esse nome, a droga é confundida com as anfetaminas ou metanfetaminas, outros estimulantes sintéticos ilegais que deixam as pessoas "ligadas". Apesar de ser derivado da anfetamina, o composto MDMA tem uma parte da sua molécula semelhante ao de um alucinógeno. O MDMA não chega a produzir as alucinações do LSD (ácido lisérgico), nem a excitação de substâncias estimulantes como a cocaína. Em compensação, mixa efeitos moderados das duas substâncias - segredo do seu sucesso como "droga social".
Ingerido por via oral, o "E" chega à circulação sangüínea em 20 a 60 minutos, através do aparelho digestivo, e espalha-se por todo o corpo. Quando a substância alcança o cérebro, têm início os efeitos. Ela atua sobre os neurotransmissores - mensageiros responsáveis pela transmissão de informação no cérebro que regulam o nosso humor e outras funções do organismo. São três os neurotransmissores afetados: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. O mais atingido pelo "E" é a serotonina - que controla as nossas emoções e também regula o domínio sensorial, o motor e a capacidade associativa do cérebro. O MDMA provoca uma descarga de serotonina nas células nervosas do cérebro para produzir os efeitos de bem-estar e leveza tão apreciados pelos freqüentadores das raves (veja infográfico na página 52).
Como a serotonina também é reguladora da temperatura do corpo, outro risco imediato de quem toma o ecstasy é o da hipertermia, ou superaquecimento do organismo. As mortes associadas à droga são decorrentes quase sempre da elevação da temperatura do corpo acima dos 41 graus. A partir dessa temperatura, os riscos são eminentes. O sangue pode coagular produzindo convulsões e parada cardíaca. Não é à toa que as raves são praticamente as únicas festas em que o consumo de água mineral ultrapassa de longe o das bebidas alcóolicas.
Por estar tão associado ao ambiente tecno-futurista da música digital, é difícil acreditar que o MDMA já existia em 1912 - quando o último grito em tecnologia sonora era o fonógrafo de Thomas Edison. Em 1914, o laboratório alemão Merck patenteou a fórmula do MDMA, na esperança que ela servisse como um medicamento para estancar hemorragias. Mas a droga nunca chegou a ser comercializada. E permaneceu esquecida por décadas até ser ressuscitada na Califórnia, nos Estados Unidos, nos anos 60. O químico Alexander Schulgin sintetizou o MDMA em seu laboratório e testou os efeitos em si mesmo. Em 1978, publicou o primeiro artigo científico sobre o efeito da substância em seres humanos. O artigo dizia que a droga produzia um "estado controlável de alteração da consciência com harmonia sensual e emocional". Foi o bastante para que um grupo de psicoterapeutas americanos passasse a usar o MDMA como droga auxiliar em seus tratamentos. A idéia era simples: sob doses controladas, os pacientes falariam sem barreiras sobre os seus conflitos, ajudando seus tratamentos psicológicos.
Esses terapeutas pouco conheciam os efeitos da droga sobre o cérebro, a longo prazo. E tentaram manter seu uso restrito. Temiam que, assim como ocorreu com o LSD, o MDMA fosse proibido quando se tornasse popular. Os anos 80 confirmaram as previsões. No início daquela década, a droga podia ser encontrada em bares, nos Estados Unidos, com o nome de Adam, Essence e Love. Em 1986, a Comissão de Entorpecentes das Nações Unidas e peritos da Organização Mundial de Saúde solicitaram que os Estados membros de ambas as instituições banissem o MDMA com base na Convenção Internacional sobre substâncias psicotrópicas de 1971. Com a decisão, os psicoterapeutas ficaram proibidos de usar profissionalmente o MDMA - com exceção da Suíça, onde a droga permaneceu liberada para esse fim até 1993. Apesar da proibição, até hoje alguns médicos continuam insistindo nas possíveis vantagens terapêuticas da droga. É o caso da doutora Julie Holland, psiquiatra norte-americana que escreve artigos em defesa do MDMA. Para Holland, a substância pode servir como um antidepressivo de efeito imediato. "A maioria dos antidepressivos levam semanas e às vezes meses para funcionar, enquanto o MDMA precisa de apenas uma hora", afirma Julie.
O que novas pesquisas da Universidade John Hopkins trazem são evidências de que o MDMA causa danos permanentes em determinadas células do cérebro (ver box acima). No mês passado, a revista americana Neurology publicou os resultados parciais de uma recente pesquisa canadense que dissecou cérebros de cadáveres de usuários de ecstasy para compará-los com cérebros de pessoas que não haviam usado a droga. Os resultados são surpreendentes: a quantidade de serotonina nos cérebros dos usuários do ecstasy era de 50% a 80% menor do que em um cérebro comum.
Mas nem a divulgação dessas pesquisas, nem a proibição da droga, impediram a escalada de vendas de "E". Na cidade de Nova York, uma pesquisa revelou o impressionante dado de que um em quatro adolescentes já experimentaram a droga. Em São Paulo, até o ano passado o ecstasy nem era levado em conta pelas estatísticas. No levantamento domiciliar sobre o uso de drogas no Estado, realizado pela Universidade Federal de São Paulo, o ecstasy nem entrou na lista. Depois da maior apreensão de Ecstasy no Brasil, em novembro do ano passado - 170 000 comprimidos no Aeroporto de Cumbica em São Paulo -, e da recente descoberta do laboratório da droga no país, tudo indica que a indiferença em relação ao "E" vai acabar.
É provável que o maior risco do Ecstasy, no entanto, não advenha diretamente do MDMA. Como toda substância ilegal, ninguém pode garantir o conteúdo do comprimido que é vendido como ecstasy numa festa ou casa noturna. "Nas amostras que analisamos em São Paulo, encontramos diversas substâncias misturadas ao MDMA", diz o professor Ovandir Silva, diretor do laboratório de análise toxicológica da USP. "Alguns comprimidos continham cafeína e metaanfetamina - droga com alto poder de vício."
A propósito: ecstasy vicia? Por enquanto, há poucos relatos de dependência física de MDMA - apesar de a OMS recomendar que não se faça mais a distinção entre dependência física e psicológica. O que se estima, de toda forma, é que seu poder de vício seja equivalente ao do LSD. "Ainda não conheço nenhum viciado em ecstasy", diz Arthur Guerra, professor da USP e um dos maiores especialistas no tratamento de dependentes de drogas no país. Guerra, que recentemente recebeu a incumbência de tratar o cantor Rafael, do grupo Polegar, usuário de cocaína e crack, diz que ainda é incomum ouvir depoimentos do uso de ecstasy fora das festas e de encontros entre amigos. "A droga ainda está associada a um tipo bem específico de cultura", diz.
A origem dessa cultura que envolve o "E" remonta ao ano de 1987, na Ilha de Ibiza, na costa mediterrânea da Espanha, uma das maiores concentrações de jovens europeus, e especificamente ingleses, em férias de verão. Foi lá que surgiu a cultura clubber, em referência aos freqüentadores dos "clubs" de Ibiza, casas noturnas que correspondem às nossas danceterias. Uma associação entre psicodelismo, festas dançantes intermináveis e, claro, ecstasy. "Eles uniram a música eletrônica e a linguagem visual dos anos 60 e 70", diz a jornalista Erika Palomino, espécie de porta-voz da cena clubber no Brasil. Erika acompanha raves desde suas origens, em 1994, quando o movimento estava restrito ao underground da noite paulista. "Naquele ano, chegaram as primeiras remessas significativas de ecstasy no país. Ele vinha cercado da fama de droga do amor", diz. Erika conta que, depois de um certo tempo, muitos usuários não conseguem mais se divertir sem a droga. "De certa forma, eles também se tornam escravos do 'E'."

Para saber mais
Na livraria: Ecstasy and The Dance Culture
Nicholas Saunders, Turnaround e Knockabout, Inglaterra, 1995.

Ecstasy & Cia
Patrick Walder e Günter Amendt, Campo das Letras, Portugal, 1997.

Babado Forte
Erika Palomino, Editora Mandarim, São Paulo, 1999.

Na Internet: Dance Safe www.dancesafe.org

Na Internet: Maps www.maps.org/research/mdma/index.html

rcavalcante@abril.com.br



Euforia solta no cérebro

1. O cenário da ação As sensações são criadas no cérebro pela troca de substâncias químicas, os neurotransmissores, entre os neurônios. O intercâmbio ocorre no local onde dois neurônios se encontram, as sinapses.

2. Fluxo normal
Quando você sente bem-estar, um neurônio libera algumas moléculas do neurotransmissor serotonina. Ao serem absorvidas por outro neurônio, surge a boa sensação. Mas o efeito não dura muito porque parte da serotonina é reabsorvida pelo primeiro neurônio.

3. Efeito turbo
E aí que entra em cena o ecstasy. Cerca de 30 minutos depois de ingerido, ele chega ao cérebro, entra na sinapse e bloqueia as moléculas de serotonina que, sem isso, seriam reabsorvidas. O prazer é prolongado.

4. Fim do barato
Um ou dois dias após o fim dos efeitos, ocorrem estados de depressão provocados provavelmente pela redução dos níveis de serotonina no cérebro. É a chamada Blue Tuesday, a terça-feira triste.

O underground conquista o andar de cima

As drogas sempre estiveram ligadas a um tipo específico de cultura - ou contracultura, ou subcultura. Sempre inspiraram um determinado tipo de comportamento. E por isso mesmo sempre tiveram a sua estética própria. A maconha está para o reggae assim como o LSD (ácido lisérgico) está para o rock progressivo, por exemplo. A velocidade e a frieza yuppie dos anos 80, expressos em filmes como Nove e Meia Semanas de Amor, de Ridley Scott, ou Wall Street, de Oliver Stone, têm tudo a ver com cocaína. O mercado, por sua vez, mesmo sendo um ambiente conservador, sempre soube absorver essas estéticas, geradas inicialmente por artistas e indivíduos marginais, e transformá-las em tendências aceitas por todos.Com o ecstasy e a estética clubber que lhe é peculiar, não é diferente. No Brasil, já há vários produtos emprestando o psicodelismo cibernético das raves. A Skol, por exemplo, apostou alto esse ano para posicionar sua marca entre os jovens: organizou a sua própria rave, o Skol Beats, um festival de música eletrônica que durou dois dias. O desodorante Axe, da Gessy Lever, cobriu de tons psicodélicos uma recente campanha publicitária. Em São Paulo, o Shopping Villa-Lobos, inaugurado em abril desse ano, foi projetado com uma ala exclusiva para lojas ligadas à cultura clubber, o espaço Hype. Enfim, valores e atitudes que nos assustam hoje - é o que mostra o retrospecto das últimas décadas - podem muito bem estar amanhã dentro da nossa sacola de compras.

O barato pode sair caro

"Não há nenhuma evidência científica que sustente o uso do MDMA como um medicamento", afirmou à Super o neurotoxicólogo George Ricaurte, da Universidade John Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos, um dos maiores estudiosos do assunto. "Mais do que isso, temos evidências de que o MDMA pode provocar danos permanentes ao cérebro." Ricaurte estuda há anos os efeitos do ecstasy no cérebro. Em 1994, mostrou que pessoas que tomam a droga pelo menos cinco vezes sofrem de apatia, problemas de insônia e têm menor quantidade de serotonina, o neurotransmissor responsável pelas nossas emoções, no cérebro. A baixa de serotonina foi confirmada em 1998 com tomografias realizadas em usuários de ecstasy. Ricaurte faz outro alerta: uma pesquisa recente feita com macacos revelou que os problemas causados pelo MDMA permanecem iguais mesmo depois de sete anos de abstinência da droga. Rafael Kenski

"Você não quer parar de dançar"

"Estava ansiosa. A festa rolava a mil. Eu tinha tomado meio comprimido de 'E' há 30 minutos e nada, nenhum efeito. Mas, aos poucos, meu corpo foi ficando diferente, mais sensível, mais maleável. Quando era tocada em qualquer lugar, sentia o mesmo arrepio de uma carícia atrás da orelha ou na virilha. Um profundo sentimento de harmonia com o mundo foi me preenchendo.Numa rave, as pessoas olham para você e sentem a sua felicidade. Basta um olhar, não é preciso mais nada. As cores ficam nítidas, como se você estivesse dentro de um mundo de cor. Parece um videoclip em que o DJ comanda os seus movimentos por meio do som. Quando eu tomo ecstasy, alterno fases de euforia e de relaxamento. É como a música que mistura a batida eletrônica com sons distorcidos. Você não quer parar de dançar. É o ritmo da galera que contagia. Chega um momento em que tudo parece estar em câmera lenta. O corpo aquece, você sente calor, fica derretendo, derretendo, bebe muita água. Mas não sente fome nem cansaço. Pode agüentar horas na pista. O desejo sexual também aumenta. Pelo menos o meu aumentou. Dividi um comprimido com o meu namorado e pude comprovar esse aumento de prazer. O nome 'pílula do amor' faz sentido. Tinha uma aura diferente entre a gente, um clima de muita compreensão e de carinho pleno em cada toque. Acho que é o contato com a pele que fica diferente.
Mas o 'E' dá depressão, sim. Você fica triste depois que o efeito passa. É difícil voltar e encarar a realidade de que a vida não é tão maravilhosa. As coisas ficam estranhas por um tempo. Acho que não compensa tomar o 'E' sempre. Eu, particulamente, só tomo acompanhada do meu namorado."